17 fevereiro, 2008

AUSÊNCIA .......


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Há várias espécies de dores capazes de atingir os corações humanos.
Qual a mais intensa?
Parece-nos ser aquela que estamos sentindo no momento.
Temos o costume de esquecer o passado e valorizar o sentimento presente como se nada de pior já tivesse acontecido ou pudesse vir a acontecer.
Isso é uma tendência muito natural do ser humano.
Mesmo assim, existem sofrimentos que se distinguem dos outros, e assumem perante a maioria das criaturas uma condição de maior gravidade.
A morte de um ser querido, por exemplo.
Não há quem não se comova, sofra, sinta verdadeiramente quando um ser amado abandona o envoltório corporal e parte para outro plano da vida.
Pouco importa se a desencarnação foi repentina ou não; se foi violenta ou serena.
Não interessa se aquele que partiu já contava com avançada idade ou se ainda era jovem.
Não há como mensurar essa espécie de dor.
E cada um a sente e reage a ela de forma diversa.
Há aqueles que se entregam, blasfemam e se revoltam.
Há outros que choram, mas que aceitam, envolvendo suas dores no bálsamo da prece e da fé.
Há, ainda, os que buscam modos nobres e belos para render novas homenagens àqueles que já se foram.
Assim parece-nos ter agido o poeta Augusto Frederico Schmidt, que toca nossos corações com os seguintes versos:
"Os que se vão, vão depressa, Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.
Ontem dizia adeus, ainda da janela.
Ontem vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa.
Os que se vão, vão depressa.
Seus olhos grandes e pretos, há pouco, brilhavam.
Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava.
Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.
No entanto hoje, na festa, ela não estava.
Nem um vestígio dela, sequer.
Decerto sua lembrança nem chegou, como os convidados, alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos.
Os que se vão, vão depressa mais depressa que os pássaros que passam no céu, mais depressa que o próprio tempo, mais depressa que a bondade dos homens, mais depressa que os trens correndo, nas noites escuras, mais depressa que a estrela fugitiva que mal faz traço no céu.
Os que se vão, vão depressa.
Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações, só no coração sempre ferido do poeta é que não vão depressa os que se vão.
Ontem ainda sorria na espreguiçadeira, e seu coração era grande e infeliz.
Hoje, na festa ele não estava, nem sua lembrança.
Vão depressa, tão depressa os que se vão ..."
Não permita que sua dor, seja ela causada pelo motivo que for, o impeça de perceber a beleza de cada momento.
Não deixe que suas lágrimas, por mais sentidas e justas que sejam, turvem sua visão, impossibilitando que seus olhos vejam a vida com clareza e serenidade.
Dedique aos amores que partiram pensamentos otimistas e repletos de confiança no reencontro futuro, sem desespero nem revolta.
Se hoje, na sua rotina, pareceu-lhe que ninguém notou a dor que lhe invadia intensamente o peito, saiba que nada, nem mesmo nossas angústias, passam despercebidas ao Pai.
Confie, persista e prossiga, sempre......

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Um comentário:

Unknown disse...

Eu acho que existem várias formas de morrer... Às vezes morrem também aqueles que simplesmente desistem de buscar...não importa o que, já que a vida é uma busca incessante de qualquer coisa. A morte física sempre deixa um vazio e uma dor infinita no coração de quem participou daquela vida, com certeza, e é uma experiência que eu não gosto de ter.É inevitável, eu sei, mas eu sempre peço à Deus que mantenha as pessoas que eu amo e estimo sempre por perto. E tenho tentado viver da melhor forma possível, sendo cada vez uma pessoa melhor, pedindo perdão por ter feito tanta gente sofrer, com atos imaturos de uma juventude que não volta mais e até mesmo nos dias de hoje, talvez...Eu amo tanto viver que tenho tatuado no meu pescoço um símbolo japonês que significa VIDA. E vivo intensamente. E acho que a vida é uma interrogação a cada segundo...