07 janeiro, 2011

Às favas com o amor! Eu quero é ser feliz...

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Pois é... a sensação que tenho tido, nos últimos tempos, é de que essa busca pelo grande amor, pelo par ideal, pelo príncipe encantado, pela felicidade infinita – que deveria ter se configurado como um caminho edificante e enobrecedor – tem servido bem mais para transformar a vida de um grande número de pessoas numa insanidade absurda.



Basta repararmos um pouco mais atentamente na enorme confusão que tem sido tantas relações (com suas intermináveis tentativas de nomenclaturas) e terminaremos por concluir que nisso tudo tem algo que precisa ser urgentemente revisto, reavaliado e reconduzido.


Se estudarmos um pouco mais profundamente a história da humanidade, não demoraremos a descobrir que o comportamento entre homens e mulheres, incluindo o desejo sexual e suas mais diversas manifestações, passou por algumas transformações significativas antes de chegar neste cenário que vivemos atualmente.


Se no começo tudo era uma questão de sobrevivência e perpetuação da espécie, não faz muito tempo nasceu o desejo pelo conforto, pela fartura, pelo bem-estar.
Eis também o nascimento do amor romântico e dessa tão visceral busca pela felicidade, que ganhava – a partir de então – um sentido bem mais amplo e refinado do que tinha até então.


Daí para alcançarmos este ritmo alucinante de mudanças, não demorou quase nada.
Bem menos de um século apenas.
E neste momento vivemos como que em meio a um furacão, recheado de dúvidas, incertezas, inseguranças, expectativas e perspectivas cujas bases estão trincadas, em plena reforma...


E a pergunta se repete, incessantemente: por que tem sido tão difícil viver esse tal grande amor?
Por que embora esse pareça ser o maior desejo da grande maioria, o que reina são os desencontros?


Talvez você também já tenha vivido contradições profundas como essas.
Talvez já tenha acreditado piamente que tudo o que mais desejava era amar e ser amado e, diante desta possibilidade, não soube o que fazer, ou fez tudo errado...


Talvez já tenha dito para si mesmo, incontáveis vezes, que prefere ficar só, desfrutar de sua liberdade, preservar seu espaço e sua individualidade e, cara a cara com seu espelho, sentiu medo da solidão ou o peso quase insuportável da falta de um abraço...


E nesses momentos, convencido (?) pela atual corrente de pensamento que afirma que tudo só depende de você, o conflito interno é praticamente inevitável: o que eu realmente quero?
Se depende só de mim, por que será que as pessoas influenciam tão diretamente no modo como me sinto?
E se a responsabilidade pelo que me acontece é somente minha, por que nem sempre alcanço os resultados para os quais tanto me dediquei?


Não sei... mas diante de todos esses pontos de interrogação, tendo a concluir que este é um momento da história das relações de completa metamorfose.
O que era antes não é mais.
O que será ainda não sabemos.
Agora, somos homens e mulheres repensando seus papéis, seus desejos, seus lugares dentro dos encontros amorosos, da família e da vida em geral.


O problema, então, talvez seja o apego e o anseio por uma idéia de grande amor que é incompatível com a realidade atual.
Um grande amor que não seja castrador e submisso como o que viveram nossos avós, mas que também não seja tão livre e descomprometido como este que temos experimentado nas últimas décadas.
De preferência, que seja intenso, romântico, perfeito, cheio de encanto e paixão, como descrevem os poetas e compositores ou mostram os filmes das telas dos cinemas...
Daqueles que chegam e nos arrebatam de uma vidinha que não temos suportado carregar sozinhos (porque é exatamente assim que tenho visto muita gente esperar por um grande amor). Ah! E que seja para sempre, claro!


Não percebemos que essa busca não é coerente com as atitudes que temos tido ou com o modo de vida que temos adotado.
As engrenagens externas estão totalmente desencaixadas das internas.
Os ritmos estão desencontrados.
O que se deseja comprar não é o que está à venda e ainda assim pagamos o preço para ter o que está nas prateleiras.
Estamos perdidos entre sentir, querer, fazer, parecer e, enfim, ser!


Tudo bem... acho até que não daria pra ser muito diferente disso, já que a fase é de profundas mudanças, mas aposto que o caminho poderia ser bem mais suave e prazeroso se parássemos de acreditar que o grande-amor-dos-contos-de-fadas é a solução na qual devemos investir toda a nossa existência.


A insanidade (que é o que mando às favas, na verdade) fica por conta dessa insistência em acreditarmos que amor é um ‘estado civil’ qualquer que devemos atingir e, uma vez nele, a felicidade é certa.
Não é!
Felicidade é aquela que temos a oferecer e não aquela pela qual temos esperado.
E é também bem mais incerta, imperfeita e inconstante do que temos imaginado. Simplesmente porque somos gente e gente é assim: incerta, imperfeita e inconstante.


E quando, finalmente, aceitarmos esse fato, creio que teremos começado a compreender o que é o amor...

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